domingo, 28 de dezembro de 2008

Análise do Learning Space da Open University (UK)



Produção
A Open University no Reino Unido propôs -se criar em 2005 o espaço OpenLearn , com o objectivo de tornar alguns dos conteúdos, métodos e ferramentas dos seus cursos, de livre acesso, num ambiente web aberto, de modo a estimular e apoiar a formação de comunidades de aprendizagem colaborativa informais destinadas a adultos, a profissionais ( de educação por exemplo), permitindo paralelamente coligir dados para uma avaliação da utilização das suas ferramentas, num ambiente de conteúdos livres.
Financiamento Os custos da iniciativa Openlarn têm sido de 5,65 milhões de libras por ano ( nos últimos dois anos) suportados pela William and Flora Hewlett foundation. Aceitam-se outros donativos. Custos O utilizador não suporta qualquer custo. Os conteúdos são livres e abertos a todos. Como convidado pode-se consultar as unidades contudo é necessário registo para se ter acesso a todas as actividades e ferramentas de suporte de aprendizagem. a todas as actividades: fóruns de discussão, My Learning Space, juntar-se/fundar um clube para debate e partilha com outros membros, participação no Labspace para modificar materiais, às ferramentas que se encontram disponíveis - compedium cohere FM Live Comunication (Todas as ferramentas de suporte da aprendizagem referidas foram desenvolvidas por equipas da Open University, são de fácil acesso e contam com guias de iniciação e faqs) Catalogação Materiais agrupados por tópicos contendo cada um deles várias unidades classificadas quer quanto ao nível ( introdutory, intermediate, advanced, masters) quer quanto ao número de horas que é necessário despender.
Arts and History 64 Business and Mannagement 34 Education 42 Ealth and Lifestyle 29 IT and Computing 26 Law 9 Mathematics and Statistics 37 Modern Languages 16 Science and Nature 84 Society 65 Study Skills 30 Technology 33 How to... 9
As unidades podem ser pesquisadas quer através do nome, quer através de uma palavra/assunto, apresentando os resultados todos os textos em que se encontra quer através, das etiquetas atribuídas a cada unidade. Podem ainda ser agrupadas ou ordenadas segundo vários critérios encontrando-se disponibilizados em vários formatos alternativos incluindo RSS e XML e permitem a impressão e o download, garantindo-se a acessibilidade e a usabilidade.
Tipo de recursos, acesso e distribuição Cada unidade assume uma forma tutorial (percurso único e convergente) que explicita na introdução os destinatários preferenciais e os resultados de aprendizagem espectáveis seguindo-se o(s) texto(s)- aula - sobre o tema em questão com indicação de artigos/partes de livros a ler (PDF) ou filmes a visionar. Pontuando os textos e/ou no final são propostas actividades de variada ordem que podem ir desde o apontar de ideias à leitura dos textos ou visionamento dos filmes disponibilizados. Após a primeira abordagem à tarefa (escrita/leitura/visionamento) é proposta uma segunda, orientada por um conjunto de questões, para as quais é recomendado que sejam escritas as respostas. Em seguida o utilizador é convidado a comparar as respostas que elaborou com as disponibilizadas da autoria de um membro da equipa do curso ou de outros aprendentes. No final da unidade é proposto que o utilizador partilhe a sua experiência, sendo o leque de interacções possíveis variado: mensagem no fórum da unidade, entrada ao learning journal ( que pode servir com um diário de aprendizagens ou como um portfolio do utilizador ) ou criando um mapa utilizando as ferramentas compedium ou cohere para organização de conhecimentos, referências ou conceitos que pode ou não ter uma construção partilhada. Existe ainda a possibilidade de o utilizador marcar uma videoconferência através do FM Live Comunication ou juntar-se/fundar um clube para debate e partilha com outros membros. As ferramentas facilitadoras de interactividade são variadas e poderão estimular o surgir de comunidades espontâneas e informais, organizadas em torno dos mesmos interesses. Formatos e standarts As unidades disponinilizam uma série de materiais que podem ser visionados directamente ou feito o download. Filmes sempre com dois formatos : alta resolução (mp4), baixa resolução (flv) Ficheiros de som – mp3 Artigos ou capítulos de livros - pdf Qualidade A escolha de analisar este espaço prende-se exactamente com esta perspectiva, partilhada pelo MIT (EUA), de disponibilização de conteúdos e cursos em regime de livre acesso, com o cunho de qualidade das respectivas Instituições, suportadas (e suportando) por investigações pioneiras em ambientes de e-learn. Licenciamento Os conteúdos podem ser usados para a educação e sem fins comerciais livremente. Podem ser usados como estão ou transformados , impressos, traduzidos, modificados, etc. A propriedade dos materiais é da Open University. Os cursos usam outros materiais como citações de livros, imagens, filmes, entrevistas com peritos etc usados sob licença. Todos os materiais estão sob dois tipos de licença: 1 - Os materiais das unidades de que a Open University detém o copyright estão sob a Creative commons license “Atributtion – Non – Comercial- Share- Alike” o que implica 3 requesitos no uso dos materiais Ser usado para fins não comerciais Citar sempre a Open University e os nomes dos autores originais Disponibilizar os trabalhos ( originais ou modificados) sob o mesmo tipo de licença, Os trabalhos modificados devem ficar também no Openlearn Labspace 2 – Os materiais integrando unidades cujo copyright não pertence à Open University mas dos quais existe licença de uso estão identificados e podem ser usados livremente como parte do todo em que se integram mas não está garantido o direito de os modificar ou de os usar como itens isolados. Contudo o conteúdo da Openlearn pode ser modificado mantendo a utilização do material. As ferramentas de software estão sob os termos das licenças GNU. Podem ser usados e modificados livremente para qualquer propósito. As modificações nas ferramentas têm de ser disponibilizadas obrigatoriamente nos mesmos termos.

Referências
Wenger, E. White, N., Smith, J. D. and Rowe, K. (2005). Technology for communities. CEFRIO Book Chapter
Costa, F. A– A Aprendizagem como critério de avaliação de conteúdos educativos on-line – Cadernos SACAUSEF II, 43-54
Santos, A. I. e Okada, A.- Discussing International Perspectives on Open Learning in Brazil: Educational Politics and Pedagogical Principles
http://kn.open.ac.uk/public/document.cfm?docid=8801 consultado em 2 /12/2008
Trabalho realizado por: Cecília Ferreira, Irene Matos, Isabel Lopes, Manuel Maria, Mª João Gama e Paula Oliveira

sábado, 1 de novembro de 2008

Sob uma óptica crítica

“ O “choque tecnológico” é necessário mas não pode ser considerado a varinha mágica que vai resolver todos os problemas do Ensino em Portugal”
As TIC que são, sem dúvida, uma mais-valia para o Ensino têm de ser integradas nas nossas escolas de forma concertada. Os problemas sociais, económicos, de aprendizagem e de abandono escolar não desaparecem como por magia com a chegada das TIC. Os computadores são meramente instrumentos que podem ser explorados de diferentes formas e com diferentes resultados. Mesmo os professores e os alunos que dominam a parte tecnológica, por vezes, “perdem-se” no mundo da informação.
A aprendizagem dos alunos está organizada em torno de um projecto de Escola e de um projecto de Turma que, por sua vez, está relacionada com o currículo e é currículo. Para esta aprendizagem contribuem as TIC, que podem ajudar a encurtar o tempo, o espaço e as diferenças sociais se todos tiverem acesso à informação.
Para mim as TIC são tal como o currículo uma opção cultural que se transforma em conteúdos do sistema educativo. Tal como a análise do currículo leva à descoberta dos valores que o orientam e às opções implícitas do mesmo, a análise do dito “choque tecnológico” leva-nos a pensar na instrumentalização que poderá ser exercida pelo poder vigente e nas consequências que esta situação terá no Ensino. Mas, como em tudo o que tem consequências a nível da aprendizagem as TIC tal como o currículo têm de ser analisados de forma crítica e construtiva.
A introdução das “novas tecnologias” no Ensino são, na minha opinião, um passo importante mas, não podemos deixar que estas dominem e condicionem todas as áreas da nossa actividade escolar.

Sob uma óptica tradicional



Concordo plenamente com os colegas que consideram o Plano Tecnológico da Educação como uma medida excessivamente política e eleitoralista. Na sociedade em que estamos inseridos, a Tecnologia é fundamental e necessária mas deveria ser implementada de uma forma concertada e coerente, o que implica uma série de medidas aliadas ao fornecimento de computadores e de conteúdos digitais de interesse pedagógico. Nenhum Kit tecnológico funciona sem a componente humana e não resolve todas as problemáticas ligadas ao ensino/aprendizagem. É importante desenvolver na Escola práticas de ensino inter-activas, mas, para isso, têm de existir formações gratuitas para que os professores menos familiarizados com as TIC possam experimentar e trabalhar com colegas mais experientes. Muitas escolas ainda não têm as condições para a implementação do plano tecnológico. Na minha opinião, deveria ter existido um ano zero onde todos os professores tivessem tido acesso a acções de formação dadas pelas escolas onde estão colocados e onde as escolas tivessem transformações e adaptações dos seus espaços físicos para recebem este Plano Tecnológico. Apesar de considerar que se deveria ter pensado melhor na dinâmica das Escolas, na formação de docentes e na formação de alunos (muitos alunos utilizam e vêm as novas tecnologias como algo lúdico e não como ferramentas de trabalho e de aprendizagem), o Plano Tecnológico abre novos horizontes e permite novos espaços de saber e de conhecimento para muitos alunos que de outra forma não o conseguiriam.
Para terminar, acho que tem de existir um equilíbrio entre o ensino tradicional, os métodos tradicionais e todas as novas tecnologias, mas nunca podemos perder de vista que estamos a preparar os cidadãos do futuro.

O que é para mim o Currículo?

Segundo Bobbit o currículo é um processo de racionalização de resultados educacionais que são especificados e medidos de forma rigorosa e como tal os estudantes não são mais do que um produto educacional. Fazendo a ligação com a noção tradicional de teoria, Bobbitt descobriu e descreveu o currículo. Sabemos que teoria define-se pelos conceitos que utiliza para conceber a realidade. Os conceitos organizam-se e estruturam a nossa forma de ver a realidade, nunca perdendo de vista que a teoria é uma representação de uma realidade que a precede. Assim sendo, chamar teoria do currículo implica que este é um objecto descoberto, descrito e explicado pela teoria, ao descrever um objecto a teoria inventa-o.
Da perspectiva do pós-estruturalismo a teoria de certo modo inventa o objecto, logo o currículo seria efectivamente um produto de criação da teoria.
Do ponto de vista do conceito pós-estruturalista de discurso o currículo é criado pela teoria e é descrito por esta como uma descoberta.
Concordo com os colegas que afirmam que o currículo é algo que tem que ser abrangente e implicar todos os agentes sociais. Como tal tem de ser flexivel, humano e acompanhar as convulsões sociais bem como a evolução do conhecimento em todas as suas vertentes.O currículo tem de estar, quanto a mim, em constante construção e ser sempre tema de reflexão.
O currículo aparece de uma necessidade de especificação precisa de objectivos, procedimentos e métodos de forma a possibilitar a medição e a análise dos resultados. Esta necessidade foi uma consequência da massificação da escolarização e da necessidade de racionalizar os resultados educacionais.
Tendo em conta este modelo, o currículo também é um conjunto de etapas cujo efeito final se torna um processo industrial e administrativo em que, os estudantes são processados como um produto fabril. Isto implica que podemos testar a sua qualidade.
Uma questão pertinente é a definição de currículo. Esta definição não seria necessária se existisse a adopção de uma noção de teoria que tivesse em conta os efeitos discursivos. Na perspectiva adoptada no texto as definições de currículo não são para saber o seu significado mas, para mostrar o que é o currículo.
Não podemos perder a noção de que o currículo depende da forma como é estruturado e de como é definido por diferentes teorias e autores. Uma definição não resolve o problema do currículo pois, não revela a sua essência, mas sim uma posição subjectiva que tem sofrido variações ao longo do tempo.
Como o modelo de currículo de Bobbit tem como inspiração a fábrica, onde a matéria-prima sofre a acção de um processo industrial até se obter um produto final. Produto final que pode ser testado e, como em qualquer indústria não sobrevive sem um suporte administrativo organizacional que monitorize as diversas etapas, contribuindo assim para uma melhor eficácia do processo produtivo.
Assim, as etapas de qualquer produção não se encadeariam de forma lógica e construtiva se não tivessem por base um modelo organizacional administrativo.
A questão primordial para toda e qualquer teoria do currículo é apurar o conhecimento que deve ser ensinado, em suma o quê? As mudanças sociais e culturais que têm ocorrido ao longo do tempo vão dar importância a diferentes conhecimentos e saberes que vão ser considerados por parte do currículo.
O currículo é assim, o resultado de uma selecção de conhecimentos e saberes procurando justificar a razão de tal escolha. Escolha que deve ter implícitas as necessidades da sociedade, o que é que os alunos devem ser ou no que se devem tornar.
Um currículo bem adaptado à sociedade onde está inserido leva a uma economia forte de mercado, com menor índice de desemprego e maior índice de satisfação.
As teorias de currículo representam o tipo de conhecimento considerado importante partindo do tipo de pessoa que consideram ideal. A pessoa ideal é aquela que é necessária para a sociedade em questão. A cada tipo de ser humano que se pretende corresponderá um tipo de currículo e como tal de conhecimento.
Não nos podemos abstrair que o currículo não é apenas uma questão de conhecimento mas, também de identidade e subjectividade de um determinado sujeito ou seja, alia-se a uma questão de conhecimento uma questão primordial de identidade. É nesta questão de conhecimento/identidade que se centram as teorias do currículo.
A acção de privilegiar determinado tipo de conhecimento no currículo não é mais do que um exercício de poder, seleccionar e avaliar é uma operação de poder.
As teorias tradicionais, criticas e pós criticas do currículo distinguem-se pela importância que conferem às relações de poder. Enquanto que para as teorias tradicionais a relação de poder não é uma questão relevante, pois pretendem ser puras e científicas dando apenas relevância a questões técnicas e organizacionais, as criticas e pós-criticas dão ênfase às relações de poder, estão preocupadas com as conexões entre saber, identidade e poder.
As teorias de currículo não estão situadas num campo puramente epistemológico ou seja, de conhecimentos e de competição entre teorias. As teorias de currículo não podem estar dissociadas do contexto social em que se inserem e como tal estas teorias vão estar situadas num campo epistemológico social.
Nenhuma teoria pode ser completamente neutra e desinteressada. As teorias críticas e pós-criticas têm uma visão mais abrangente uma vez que está sempre implicada uma relação de poder. Devemos sempre questionar “o porquê?” deste ou daquele conhecimento a ser transmitido.
A nossa forma de ver a realidade é estruturada e organizada pelos conceitos de uma teoria. Assim sendo, temos de analisar e reflectir sobre os diferentes conceitos das diferentes teorias de currículo. Não podemos dar só ênfase aos conceitos pedagógicos de ensino mas temos de analisar os conceitos de ideologia e poder para podermos “ver” a Educação de uma perspectiva mais abrangente.